Desde a década de 1980, Bristol deu origem a artistas de renome mundial como Massive Attack, Tricky e Portishead, bem como as artistas de graffiti como Robert Del Naja (3D), Inkie e, claro, Banksy. Mas qual é a ligação entre o graffiti e a música, e como é que a cultura urbana de Bristol ganhou atenção internacional nos anos 90, precisamente quando Banksy estava a começar?
Rato de violino, Banksy
Bristol é uma cena musical eclética com relevância histórica
Situada na costa ocidental de Inglaterra, Bristol foi um ponto de partida para as primeiras viagens de exploração das Américas. A cidade enriqueceu com o comércio de tabaco e de escravos. Este legado deixou à sua população uma profunda consciência do seu passado, gerando um sentimento de vergonha e timidez, que a deixou propensa a acrescentar novas camadas à história da sua cidade. Esta pesada herança moldou o rosto de Bristol de hoje: uma cidade multicultural com um espírito militante. Desde cedo, a população era diversificada. No século XX, a mistura de património cultural, desemprego elevado e uma grande solidariedade formaram um casulo criativo único.
O som de Bristol e a subcultura do graffiti
Com o surgimento da música eletrónica, as pessoas encontraram uma nova forma de fazer música sem ter de gastar tanto dinheiro ou saber tocar vários instrumentos. Passaram a poder utilizar samples de música, misturando-os com teclados, vozes e percussão. Nos anos 80 e 90, quando Banksy estava a crescer, Bristol assistiu ao aparecimento de uma cena musical revolucionária: "The Bristol Sound", fundindo música negra, hip hop, reggae, funk e rap com ferramentas eletrónicas que mais tarde evoluíram para o trip hop. O graffiti e a música uniram-se, fomentando uma subcultura que se reunia em torno de sistemas de som informais. Estes encontros realizavam-se frequentemente em zonas de risco e economicamente desfavorecidas, oferecendo acesso gratuito à música e à arte.
Robert del Naja (3D), uma grande inspiração para Banksy
Robert Del Naja é um dos pioneiros do graffiti de Bristol. Em 1983, o jovem artista de rua anglo-italiano assinou o seu primeiro trabalho de rua numa parede da cidade sob o pseudónimo 3D. Banksy inspirou-se profundamente no trabalho de 3D:
"Quando eu tinha cerca de 10 anos, um miúdo chamado 3D estava a pintar imenso nas ruas; acho que ele tinha estado em Nova Iorque e foi o primeiro a trazer a pintura com spray para Bristol. O graffiti era a coisa que todos adorávamos na escola - era algo que fazíamos no autocarro, a caminho de casa."
Em 1988, Robert del Naja (3D), com Adrian "Tricky" Thaws, Andrew "Mushroom" Vowles e Grant "Daddy G" Marshall criaram o agora mundialmente conhecido grupo chamado Massive Attack. O grupo usa as suas vozes e arte para atuar contra o racismo e defender causas políticas, como direitos humanos e ambientais. Por exemplo, recusaram-se sempre a tocar no Concert Hall, o auditório de Bristol, por ter o nome de um traficante de escravos. Tal como os Massive Attack, a arte de Banksy serve como uma voz rebelde sobre temas como o racismo, crises migratórias, questões ambientais e luta pela paz, liberdade e justiça.
Capa oficial de Vinhyl para um grupo de Bristol chamado ONE CUT, Banksy
Banksy e a arte das Capas de Discos
Tal como Robert del Naja para os Massive Attack, Banksy assinou numerosas Capas de Discos. Em 1998, assinou a sua primeira capa oficial para um grupo de Bristol chamado ONE CUT, a qual se seguiram várias capas para a mesma editora. Em 2003, Banksy foi incumbido de criar uma obra para os Blur, uma banda de rock inglesa sediada em Londres, para o seu álbum "Think Tank". O stencil mostra um casal abraçado com equipamento de mergulho em alto mar.
Banksy atribui abertamente a sua inspiração à música e, em particular, à influência de 3D dos Massive Attack no seu trabalho. Experimente esta fusão criativa entre arte e música no Museu Banksy Lisboa, onde pode ver uma obra como "Space Girl and Bird" feita para a capa do álbum dos Blur.
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