À medida que entramos na primavera, é intrigante refletir sobre a última peça de Banksy, que nos últimos dias de inverno transmitiu uma mensagem potente.
Um novo Banksy em Londres, Antes e depois do stencil, Banksy
Nas imagens que Banksy publicou no Instagram a 18 de março de 2024, há primeiro uma árvore, sem folhas. Os ramos superiores foram podados numa linha reta perfeitamente horizontal, resultando numa forma peculiar. Atrás da árvore, uma parede branca revela alguns canos de água. A partir da fotografia, é evidente que a árvore está situada num ambiente urbano, com vislumbres de uma rua e sinais de lojas visíveis. Na segunda imagem, uma mancha verde vibrante é pintada na parede atrás da árvore, criando a ilusão de folhas. É evidente que este verde é uma fachada, imitando a folhagem da primavera. A obra de arte apresenta também um stencil que representa uma pessoa a segurar um pulverizador, recordando o equipamento utilizado para aplicar pesticidas nas plantas. A tinta verde aparenta ter vindo do pulverizador.
Como qualquer obra de arte de rua, a obra está disponível para todos, mas será que esta obra de arte pode ser roubada?
Mas o que é que poderia ser roubado? Poderá o stencil ser destacado e falar por si? E se esta peça apenas pretendesse transmitir uma mensagem forte que seria impossível sem a interação das suas partes componentes? A peça assenta numa combinação de factores físicos e temporais: a parede em que se encontra, a árvore podada e sem folhas (que significa a estação atual), as questões contemporâneas (relacionadas com o impacto humano no planeta) e o processo de documentação do artista (captado através de fotografias e depois publicado no Instagram). A obra de arte poderia encontrar o seu significado a partir destas fotografias, imortalizando a peça num momento específico antes de ocorrerem as transformações. Algumas transformações são inevitáveis, como o crescimento das folhas e a tinta branca que começa a descolar da parede, enquanto outras, como as intervenções para evitar o vandalismo aplicando um pouco de plástico na parede, são mais deliberadas. A contradição dessas intervenções é que elas de certa forma, obscurecem a mensagem do artista. O ponto central da obra que transporta a mensagem é, de facto, a árvore. Um artigo no The Guardian esclarece a sua história - trata-se de uma cerejeira com 50 anos de idade, considerada “em declínio” pela câmara municipal e que sofreu uma poda severa.
Novo Banksy Londres, uma pessoa a segurar um pulverizador, Banksy
O que é que esta árvore doente tem a dizer na obra de Banksy?
Em primeiro lugar, a arte de Banksy chama invariavelmente a atenção para o que o rodeia, chamando a atenção para elementos negligenciados como esta árvore. Será que vai florescer magnificamente como uma cerejeira costuma fazer, ou será que vai sucumbir à doença ou a quaisquer outras consequências de um clima perturbado? Depois, olhando mais além, que tipo de futuro aguarda o nosso planeta? Continuaremos a fingir que está tudo bem? Banksy imagina uma primavera distópica, em que as folhas são artificialmente esverdeadas com tinta química e uma multidão de fãs se apressa a tirar uma selfie em frente à última obra de arte de Banksy que está na moda - um comentário duro à nossa sociedade moderna.
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